Dia 5 – De Brotas a Ferreira do Alentejo

Partimos (já com saudades) de Brotas. Tínhamos consciência que deixávamos, para trás, memórias que tão depressa não nos iriam abandonar. Seguia-se a localidade do Ciborro, que orgulhosamente detém o marco do Km 500, com uma placa a identificar o local. Parámos para reforçar a cafeína matinal num café que ali se encontra, onde a simpática funcionária nos carimbou também a passagem. O passaporte estava a ficar composto mas o guia (onde, como partilhámos convosco, começámos a carimbar desde o início) estava a ficar uma “peça única” com estas memórias físicas ali registadas, relatando a história da nossa viagem! Dois homens estavam sentados umas mesas ao lado da nossa e pudemos ainda ouvi-los comentar sobre quem viam passar e parar junto do marco do Km500 ali mesmo à nossa frente. Definitivamente, a mítica Estrada Nacional 2 (N2) não deixa ninguém indiferente e também aqui deixa a sua marca, em quem parte e em quem vê partir…

O calor intenso que se fazia já sentir (uma vez mais) levou-nos a uma rápida passagem por Montemor, onde o seu castelo na encosta serve de cartão de visita para quem passa. Temos a certeza que mereceria mais tempo, mas ficará certamente para breve. Claro que pelo menos o carimbo tivemos de levar, para registar mais uma etapa cumprida.

Num pequeno desvio de pouco mais de 2 km, encontrámos um edifício histórico do qual os locais muito se orgulham e que não podíamos, de todo, ignorar. A Anta Capela de Nossa Senhora do Livramento (ou Anta-Capela de São Brissos) encontra-se perto do Km 534 e resulta da junção de uma anta de uns milhares de anos antes de Cristo com outro mais recente acoplado, tornando-o um local místico. No local encontrámos um habitante local, já com alguma idade, aproveitando a (pouca) sombra que ali havia é acompanhado de um Rafeiro Alentejano que estranhou por momentos a nossa presença. Contávamos apenas perder-nos com a vista de fora do pequeno Santuário e das planícies alentejanas envolventes, mas este simpático senhor disse-nos para aguardarmos, que o filho estaria a chegar e ia abrir para podermos conhecer por dentro. Nestes curtos momentos de conversa que ali tivemos, falámos de como aqui se faziam antigamente romarias especialmente na altura da “Festa da Espiga”, e de como agora tudo isso se tem perdido e quão deserta esta zona se tem tornado, onde infelizmente não existem tantas oportunidade e os jovens partem em busca de melhores condições… Partilhou-o num misto de tristeza e de aceitação, mas feliz porque os “seus” estavam por perto e hoje até iriam, juntos, fazer uma “sardinhada ”. Depois de ter chegado o filho que nos abriu a porta, observámos o humilde interior deste templo, onde diversas fotos junto do pequeno altar nos remetiam para as muitas promessas e agradecimentos da graça divina, possivelmente em épocas de maior aflição. Despedímo-nos e agradecemos a amabilidade, quando o simpático senhor nos mostrou ainda a neta, ainda bebé, dizendo que ali sim estava a sua verdadeira riqueza! Realmente, de que importam todas as outras riquezas, se estas que nos ligam de sangue nos falharem… Enquanto nos afastávamos, vimos a família dirigir-se para o interior do santuário, abraçados… Talvez por agradecimento, talvez por promessa… Quem sabe! 

Seguiu-se a simpática localidade do Torrão (Km 565), onde planeávamos parar para almoçar. Os piqueniques nesta altura e com estas temperaturas começavam a tornar-se mais difíceis de “tolerar”, apesar dos sítios lindos por onde íamos passando, e acabámos por nos ir rendendo ao “fresco” que sentíamos nestas paragens para a refeição. Nunca (e de forma tão irónica) uma localidade fez tanto juz ao nome! Depois de um almoço reconfortante e maravilhoso no restaurante “O Tordo” (que também marca orgulhosamente a sua ligação à N2) quando chegámos ao carro o termómetro marcava “só e apenas” 50°C… Ok, estava parado e mais exposto ao sol, mas depois de arrancarmos não conseguimos baixar o registo dos 48°C! Grande “Torrão”. Ainda assim, não pudemos deixar de reparar (e admirar) o seu largo central, onde se notavam detalhes da nossa história que o tempo não apagou e que valem a pena ser vistos. É também um pouco isto que a N2 tem de maravilhoso, o facto de manter em tantos locais a sua essência… E seria tão fácil passarmos por estes detalhes e ignorá-los… Mas se houve coisa que esta viagem nos tem ensinado, mais do que nunca, é que o caminho só se preenche realmente se pararmos, nem que seja por momentos, para absorver cada detalhe que temos à nossa disposição e que tantas vezes nos passam despercebidos. Temos mesmo de fazer por manter mais este pensamento no nosso dia a dia! Quantos detalhes devemos ignorar na azáfama em que constantemente andamos…

A albufeira da Barragem de Odivelas encontrava-se mais adiante e não resistimos a uma curta paragem para refrescar e ganhar fôlego para o que ainda nos faltava do plano para este dia. Além de lindíssima, pareceu-nos também ela um pequeno oásis nesta imensidão de calor que fazia até “ondular”, no horizonte, o asfalto que andávamos a percorrer…

Antes da localidade de Ferreira do Alentejo (Km 577), um túnel de Pinheiros Mansos (junto ao Km 568) receberam-nos numa vista única. Aqui queríamos também carimbar a passagem e visitar a capela do Calvário, um edifício histórico e com uma arquitectura única. Encontrava-se em obras de manutenção exteriores e, logo ali ao lado, “refugiámo-nos” uma vez mais no ar condicionado, desta vez do Posto de Turismo local, aproveitando a deixa do carimbo para ali entrar. Ainda perguntámos à funcionária que ali se encontrava onde havia ali uma esplanada próxima e agradável para bebermos algo que nos refrescasse, mas acabou por nos demover da ideia porque “nem nas esplanadas ali se aguentava com tanto calor”. A piscina do alojamento onde íamos ficar pareceu-nos uma boa opção e assim foi. O último dia desta viagem aproximava-se a passos largos e foi em “banho maria“ que ganhámos fôlego para o enfrentar. 

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