Roteiro de 2 dias pela Ilha da Graciosa

A Ilha da Graciosa é uma das mais belas ilhas Açorianas (na nossa opinião), uma das que está, para já, longe do turismo de massa e onde o “Açorianismo” no verdadeiro sentido da palavra se encontra ainda muito bem marcado. Tão pequenina quanto graciosa (como o próprio nome indica), com uma enorme e imponente Caldeira cujo acesso é feito por um túnel que atravessa a parede do próprio vulcão, furnas e termas, moinhos, queijadas e burros, piscinas naturais e vistas lindíssimas para as ilhas vizinhas, esta ilha conquistou-nos por completo e lembramo-la com uma enorme vontade de voltar. Esta ilha faz até parte, desde 2007, da Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO. Curiosos? Venham daí que vamos partilhar um pouco mais da nossa experiência por esta ilha…

Índice de conteúdos do artigo

1. Onde fica a Ilha da Graciosa
2. Melhor altura para visitar a ilha
3. Como chegar?
4. Como se deslocar na ilha?
5. O nosso roteiro de 2 dias pela Ilha da Graciosa
6. O que e onde comer?
7. Ilha da Graciosa com bebés: sim ou não? Cuidados extra?
8. Seguro de viagem
9. Outras dicas importantes a ter em conta

1. Onde fica a Ilha da Graciosa

A Ilha Graciosa fica no grupo central do lindíssimo arquipélago dos Açores, a norte de São Jorge e a Oeste da Terceira.

É a segunda ilha mais pequena do arquipélago (logo a seguir ao Corvo) com os seus 12,5 por 7,5km, fazendo com que possa ser percorrida de carro de uma ponta à outra em pouco menos de meia hora. Conta apenas com Santa Cruz da Graciosa como concelho e tem pouco mais de 4000 habitantes em toda a ilha.

Localização da Ilha da Graciosa, inserida no grupo central do arquipélago dos Açores (imagem adaptada do Google Maps)
2. Melhor altura para visitar a ilha

No que toca à meteorologia, “os Açores serão sempre os Açores” e sim,  é verdade quando dizem que se pode contactar com as 4 estações do ano num só dia. Na ilha Graciosa também assim é e, portanto, deverão sempre ir preparados para este cenário com um impermeável/casaquinho à mão, ao mesmo tempo que levam também roupa mais fresca.

Dito isto, nos meses de Outubro a Fevereiro a probabilidade de apanhar chuva é substancialmente maior. Se nestes meses de “inverno” as temperaturas oscilam na ordem dos 16-18ºC as máximas e 12-14ºC as mínimas, já nos meses de “verão” as temperaturas naturalmente sobem com as máximas a oscilar nos 23-25ºC e as mínimas nos 18-20ºC.

3. Como chegar?

Existem 2 formas de chegar à ilha: ou por via aérea ou por via marítima.

No caso do avião, as ligações diárias para o Aeródromo da Graciosa são asseguradas pela SATA Air Açores com voos directos de/para a Ilha Terceira e Ilha de São Miguel. Existem ligações para as restantes ilhas com escalas nas referidas anteriormente. É uma opção mais rápida mas mais dispendiosa.

4. Como se deslocar na ilha?

Para se deslocar na ilha propriamente dita sugerimos que aluguem carro de forma a que possam andar nos vossos horários e explorar alguns pontos, porque de outra forma fica mais difícil. Alugámos com a empresa Medina & Filhos Rent-a-Car e correu tudo bem, pelo que recomendamos.

Ficámos surpresos pois encontrámos nesta ilha alguns autocarros eléctricos a circular, particularmente dentro das duas principais vilas. De qualquer forma, para se deslocarem para alguns dos principais pontos turísticos, o carro será aqui uma melhor opção.

5. O nosso roteiro de 2 dias

A paisagem da Graciosa é marcada pelos maciços vulcânicos com a grande caldeira a partir da qual se perfilam múltiplos cones vulcânicos de várias dimensões, tornando-a verdadeiramente graciosa em toda a sua extensão.

Este roteiro foi aquele que fizemos nos 2 dias que por lá estivemos. É uma sugestão e obviamente vai depender sempre de onde ficam alojados, apesar da ilha ser muito pequenina e demorarem muito pouco tempo a percorre-la de uma ponta à outra. Sintam-se à vontade para inverter o sentido da visita, trocar os dias ou simplesmente fazerem os pontos noutra ordem que vos dê mais jeito em função da vossa localização, condições atmosféricas etc., mas considerem estes vários pontos, valem muito a pena!

Dia 1 – Os burros, os miradouros, a Caldeirinha, a Caldeira e o Carapacho

Um dos primeiro pontos que visitámos foi Associação de Criadores e Amigos do Burro Anão da Ilha Graciosa, cujo intuito passa pela recuperação e conservação da espécie, já reconhecida como raça autóctone e que esteve até há bem pouco tempo em vias de extinção. O italiano Franco Ceraolo foi o principal promotor da iniciativa e a associação conta já com 23 exemplares (à data da nossa visita) no espaço dedicado ao efeito. É de acesso gratuito mas devem marcar na véspera a visita. Está fechado aos domingo (devem confirmar o horário antes da vossa visita) e é, de facto, um óptimo programa para fazer com os mais pequenos. O nosso Afonso adorou e não falava noutra coisa.

De lá, seguindo em direcção à Caldeirinha, encontram vários miradouros com vistas belíssimas para a ilha de São Jorge ou mesmo para uma parte do Pico! Um dos que não devem perder é o Miradouro das Urzeiras onde, em dias de bom tempo e boa visibilidade como era o caso quando lá estivemos, consegue ver-se São Jorge, o Pico e o seu piquinho no alto e até o Faial.

A Caldeirinha, que é nem mais nem menos que uma antiga cratera vulcânica, é onde está hoje situado o Parque Eólico da Serra Branca e tem uma vista soberba de quase 360º da ilha. Por lá encontram um pequeno trilho circular em torno do cone vulcânico, que está bem marcado, não tem desnível e pode ser percorrido em +/- 10 minutos. Valem as vistas de tirar o fôlego.

No caminho para a Caldeira, sugerimos que antes de entrar para dentro da Caldeira propriamente dita percorram primeiro a estrada que percorre o topo do cone vulcânico por fora, em sentido antihorário, lentamente (até porque o piso não está em excelentes condições) e com todo o tempo do mundo para apreciar a paisagem e fazer umas paragens pelos miradouros. Não podem perder o Miradouro do Carapacho que é lindíssimo.

No fim desta estrada circular e antes de entrar na Cratera propriamente dita, sugerimos uma paragem no início do pequeno trilho ascendente que segue até à Furna da Maria Encantada (acesso para o estacionamento junto do trilho: coordenadas 39.030302, -27.981081), que não é mais do que um verdadeiro tubo lávico. Esta furna tem um dos melhores miradouros para apreciar esta inusitada paisagem para dentro da caldeira.

Furna da Maria Encantada

De lá podem (e devem!) seguir a pé em direcção à Torre. Imediatamente antes da chegada ao tubo lávico vão encontrar uma placa assinaladas como “Torre”. Prometemos que o suor da subida inicial pela encosta vai ser compensado por uma majestosa vista para a caldeira e para toda a vertente ocidental da ilha e até São Jorge e o Pico lá ao fundo, em dias de boa visibilidade. São de facto de tirar a respiração!

Depois de se deslumbrarem com a vista estarão mais do que prontos para entrarem numa dimensão paralela dentro da majestosa e imponente Caldeira da ilha da Graciosa. Existe acesso rodoviário que atravessa toda a parede do cone vulcânico através de um túnel entrando para dentro da caldeira por um estrada de calçada que continua até ao Centro de Visitantes da Furna do Enxofre, onde existe estacionamento gratuito.

É aqui que se pode comprar o bilhete (5€/adulto, gratuito até aos 6 anos) para o acesso à imponente câmara magmática com os seus 194 metros de comprimento que são verdadeiramente monumentais e valem, por si só, a visita. No interior dessa câmara para além de um lago frio encontram também as furnas de enxofre. Para lá chegarem terão de descer por 37 metros através de uns exactos 183 degraus numa torre de pedra, mas que vão valer o esforço.

Por fim, não perder a zona do Carapacho que é detentora de piscinas naturais, umas termas de acesso gratuito e um farol com um miradouro belíssimo (mais um, portanto).

Zona Balnear do Carapacho – piscina natural boa para os mais pequenos, com WC de apoio e acesso gratuito;

Termas do Carapacho – estas termas têm origem num aquífero localizado por baixo das furnas do enxofre da Caldeira e são, por isso, muito ricas nesse elemento, em sódio e cloretos. Como tal, desde há vários anos são-lhes reconhecidas propriedades terapêuticas pelo que os locais não dispensam visitas frequentes. Melhor do que tudo isto? São também de acesso gratuito (!!) quer à piscina aquecida com água a 37 graus como a banheira de hidromassagem (não se poder aceder a ambos os serviços no mesmo dia). Foi recentemente recuperado pelo que se encontra em óptimas condições. Ter em atenção que não é permitida a entrada a menores de 5 anos. Nós visitámos à vez (dado estarmos com o Afonso) já que mesmo em frente encontra-se a Zona Balnear que referimos em cima, portanto não houve problemas com a logística do mais pequeno.

Termas do Carapacho

– Subida ao Farol do Carapacho onde o miradouro tem uma vista soberba! Tem acesso rodoviário em boas condições com parque de estacionamento gratuito mesmo em frente ao miradouro.

Dia 2 – A margem norte, os moinhos, as vilas, umas queijadas e uns quantos banhos 

Neste segundo dia dedicámo-nos a percorrer a costa Oeste e Norte da ilha marcadas por moinhos, piscinas naturais e pelas vilas principais da ilha.

Se tiverem oportunidade não percam uma subida de carro à Serra das Fontes para apreciar o relevo montanhoso da Graciosa (mais uma das perspectivas) com os seus mil e um pequenos vulcões à superfície.

Descendo poderão passar pelo fotogénico Moinho de Vento da Canada do Campo (ou Moinho de Vento das Fontes) na localidade de Fontes, que se encontra muito bem preservado e foi, sem dúvida, um dos nossos preferidos.

A Vila da Praia é a segunda vila mais importante da ilha e onde atracam os barcos das ligações inter ilhas. Destaca-se pelos seus múltiplos moinhos que desenham o perfil da vila de uma forma singular. Mesmo em frente encontra-se o Ilhéu da Praia (a 1,5km da costa) e é também aqui que têm MESMO de fazer uma paragem na Fábrica das Queijadas da Graciosa para provar este doce delicioso! Nesta fábrica chegam a ser produzidas mais de 2000 queijadas por dia e percebemos bem porquê! Se quiserem acompanhá-las de um café (sim também fica de comer e chorar por mais) sugerimos que visitem o café da Fábrica (“Café Félix”) que fica junto à baía e a pouco mais de 350m da Fábrica propriamente dita (5 minutos a pé) – coordenadas 39.051058, -27.971303 – e depois queremos saber o que acharam.

Níveis de açúcar repostos, vale a pena visitar a bonita, simples e bem cuidada vila de Santa Cruz da Graciosa, sede do único concelho da ilha e o grande centro de serviços, com a sua Praça Fontes Pereira de Melo e os seus dois enormes tanques, em outros tempos utilizadas para reserva de água na ilha. Destacam-se ainda a igreja matriz e as suas múltiplas fachadas brancas ladeadas por rocha negra, o Moinho de Vento do Pico das Mentiras e o Moinho de Vento da Rua do Degredo. Sim esta terra de moinhos foi, já se percebe porquê, outrora conhecida como o “celeiro dos Açores”. 

Seguindo em direcção à ponta Oeste da ilha encontra-se ainda a Zona Balnear do Barro Vermelho, mesmo abaixo do aeródromo da ilha, dispondo de apoio de WC e área de picnic, em boas condições, com acesso gratuito e zona vigiada por nadador salvador em época balnear.

Continuando o mesmo sentido segue-se o Farol da Ponta da Barca e o Ilheú da Baleia. Este farol é lindíssimo e é o orgulho dos locais já que se gaba de ser o farol com a torre mais alta dos Açores. Se o farol é bonito, achamos que vale ainda mais a visita porque logo à sua direita vão encontrar uma baía onde para além dos seus azuis em vários tons a contrastar com a lava que outrora contactou com o mar e por ali ficou, encontram uma curiosa formação lávica – o famoso Ilhéu da Baleia – onde não é precisa muita imaginação para efectivamente “ver” ali uma baleia.

Ilhéu da Baleia

Por fim, vale ainda a visita do Porto Afonso, uma baía que tem tanto de imponente quanto de fotogénica, destacando-se pela  formação geológica marcadas por múltiplas variações de cores a contrastar entre os vermelhos, castanhos, laranjas e o azul no mar. Esta foi uma das baías que mais gostámos e daquelas onde qualquer click dá um quadro.

Porto Afonso
6. O que e onde comer?

Especialidades a não perder:

Queijadas da Graciosa e os pastéis de arroz: podem comprar directamente na Fábrica das Queijadas da Graciosa (coordenadas 39.054284, -27.971046), provar no Café da Fábrica localizado em frente à praia (coordenadas 39.051058, -27.971303) ou em qualquer supermercado da ilha ou do arquipélago, mas neste último caso são tendencialmente mais caras (comprovámos isto no local!);
Queijo da Graciosa: para os adeptos da iguaria (como nós), este é sem dúvida um queijo a experimentar;
Peixe e marisco;
Vinho Pedras Brancas: vinho local com uma garrafa a rondar os 20€, não experimentámos apesar de nos ter sido aconselhado.

Restaurantes:

-» A variedade não é muita embora oiçam falar de alguns como a Estrela do Mar na Baía da Folga ou o Golfinho no Carapacho. Nós experimentámos o Costa do Sol em Santa Cruz da Graciosa e foi talvez um dos melhores restaurantes onde comemos nos últimos tempos! Provámos o filete de peixe porco e o bife à tradicional, estava tudo irrepreensível e o atendimento foi muito bom. Gostámos mesmo muito, tendo o preço médio rondado os 18-20€/pessoa.

Supermercados:

-» Entre outras opções mais pequenas, encontram a empresa Filnor que é a maior superfície de produtos alimentares da ilha. Tem 5 lojas dispersas pela ilha sendo a de maiores dimensões e a única com talho e peixaria disponíveis localizada nos arredores de Santa Cruz da Graciosa – coordenadas 39.090416, -28.014538.

7. Ilha da Graciosa com bebés: sim ou não? Cuidados extra?

Somos daqueles que não concordam que viajar com crianças é uma missão impossível… de todo! É totalmente possível desde que o destino/trajecto esteja bem estudado, condições básicas asseguradas e muita brincadeira também. Por exemplo, visitámos a Associação dos Criadores do Burro Anão da Graciosa e foi um dos momentos altos para o nosso pequenino com 2 anos, que ainda hoje fala na experiência de ter estado perto dos burros e ter-lhes dado festas.

Dito isto, para este destino em particular, devem contudo partir com a noção de que a ilha tem apenas urgência básica em Centro de Saúde (USI Graciosa), não dispondo de hospital, apesar de estar conectada a outras ilhas por via aérea e marítima. É importante ter isto em mente e perceber, em função do histórico de doenças prévias da criança, doenças crónicas, etc. se se sentem confortáveis em visitar este tipo de destinos onde os cuidados de saúde não são tão diferenciados e acessíveis como noutros locais.

8. Seguro de viagem
9. Outras dicas importantes a ter em conta

-» A ilha é pequena e, como tal, não achámos que fosse muito difícil conduzir por lá. Para além disso as estradas estão bem sinalizadas e em bom estado, de uma forma geral. Existem apenas 2 bombas de combustível (Repsol e Galp) que ficam nas imediações da Vila de Santa Cruz da Graciosa. É frequente apanhar-se algum “trânsito tipicamente açoriano”, como quem diz uma manada de vacas a passear na estrada e nessa altura é ter paciência e entrar no espirito, andando devagar para não assustar os animais.

-» Não esquecer também que estando nos Açores existe uma diferença horária de GMT-1h, ou seja, o vosso relógio deverá marcar menos 1h que em Portugal Continental.

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