Roteiro de 2 dias (e meio) na ilha de Santa Maria

A ilha de Santa Maria não se destaca como São Miguel pelas suas furnas ou por majestosos lagos, nem pelo vulcão como no Pico ou pelas fajãs como em São Jorge.  Na verdade, está até fora do tradicional roteiro turístico pelos Açores e, à primeira vista, não é uma das ilhas com mais destaque nas paisagens açorianas.  Mas afinal porque ficámos tão encantados?! Bem talvez a resposta seja precisamente isso… porque a pacatez ímpar, a par do facto de estar ainda tão virgem e conservada, nos tenha mostrado uma outra faceta do arquipélago. Apesar de não tão óbvias, a verdade é que as cascatas e paisagens se multiplicam, tal como os geomonumentos tão deslumbrantes quanto singulares, escondidos em diversos recantos. É a mais antiga das ilhas açorianas e foi colonizada por alentejanos e algarvios, o que se traduz no aspecto das casas caiadas e chaminés a fazer lembrar um misto de Algarve e Alentejo. Por outras palavras, foi um daqueles destinos onde sentimos que tem sempre mais alguma coisa para descobrir! Curiosos ou muito curiosos?

Índice de conteúdos do artigo

1. Onde fica a Ilha de Santa Maria
2. Melhor altura para visitar a ilha
3. Como chegar?
4. Como se deslocar na ilha?
5. O nosso roteiro de 2 dias (e meio)
6. Onde ficar?
7. Onde comer e especialidades a não perder?
8. Ilha de Santa Maria com bebés: sim ou não? Cuidados extra?
9. Seguro de viagem

1. Onde fica a Ilha de Santa Maria

A Ilha de Santa Maria é a que se encontra mais a sul no arquipélago dos Açores, fazendo parte do grupo oriental em proximidade com a Ilha de São Miguel.

Localização da Ilha de Santa Maria, inserida no grupo oriental do arquipélago dos Açores (imagem adaptada do Google Maps)
2. Melhor altura para visitar a ilha

Esta é a chamada Ilha do sol, sendo a mais seca de todas as ilhas açorianas e que tem mais horas de sol.

Nos meses de Outubro a Fevereiro a probabilidade de apanhar chuva é substancialmente maior. Se nestes meses de “inverno” as temperaturas oscilam com as máximas a rondar os 17-19ºC e as mínimas os 13-15ºC, já nos meses de “verão” as temperaturas sobem com as máximas a oscilar nos 24-26ºC e as mínimas nos 19-21ºC.

Dito isto, fomos em Junho/2023 e durante os 3 dias que estivemos na ilha choveu todos os dias e o tempo não esteve brilhante. Bem-vindos aos Açores e à sua imprevisibilidade meteorológica (ahahah)… Mas até isto faz parte do seu encanto.

3. Como chegar?

Para chegar a Santa Maria existe apenas a via aérea, sendo todas as ligações asseguradas pela SATA Air Açores. Existem voos directos com Lisboa, operados por esta companhia às quintas-feira e domingos (informação de 2023, sujeita a alterações). Se não for por voos directos é sempre uma alternativa assegurar um voo do continente até à Ilha de São Miguel (Ponta Delgada) e depois um voo de ligação São Miguel-Santa Maria, já que existem 2-4 voos diários de ligação entre estas ilhas.

4. Como se deslocar na ilha?

Não há volta a dar, se pretendem conhecer a ilha e explorar no vosso timing devem alugar carro. Existem algumas empresas rent a car na ilha mas a nossa opção recaiu sobre a empresa “Ilha Verde” e gostámos muito da experiência! Foram sempre impecáveis, todo o trato foi muito familiar, não tivemos qualquer contratempo e todo o processo foi linear. Foram pontuais quer no levantamento quer na entrega da viatura, ambos feitos no balcão no aeródromo da ilha. Por tudo isto, recomendamos a 100% e decidimos divulgar também aqui no blog, já que achamos que é bom deve ser divulgado e este é um desses casos.

5. O nosso roteiro de 2 dias (e meio)

Partilhamos convosco de seguida aquele que foi o nosso roteiro e que nos fez todo o sentido, quer por questões geográficas face ao nosso alojamento quer por motivos de tempo.

Se pretenderem alterar algum ponto sintam-se à vontade mas existem 2 dicas que nos foram dadas por locais que devem ter em conta:

1. É boa ideia visitar a ilha no sentido de este para oeste ao longo do dia já que ao nascer do sol/de manhã a luz está mais “bonita” no extremo oriente e o final do dia/pôr do sol é absolutamente mágico no extremo ocidental/Anjos;

2. MUITO cuidado em algumas estradas da zona da Malbusca e do Ferreiro. Quando conduzirem por lá vão perceber que se tratam de áreas com terrenos bastantes argilosos/barrentos pelo que as histórias de carros atolados multiplicam-se havendo vários em que nem os carros regulares de assistência em viagem os conseguiram tirar de lá! Para evitar dissabores, e particularmente nesta zonas, sugerimos fortemente que se mantenham sempre em estradas alcatroadas ainda que “mais secundárias”.

Ao longo da estrada e das localidades nota-se igualmente uma característica muito curiosa no que toca às casas, sendo caiadas de branco com rebordo colorido em função da localidade (conhecidas como vistas): Santa Bárbara de azul pela coloração da anilina muito frequente na zona; Santo Espírito de verde pela economia predominantemente agrícola da região; São Pedro de amarelo, relacionado com o simbolismo do ouro/riqueza das famílias mais abastadas que lá viveram essencialmente no século XVIII e a Almagreja com o vermelho do almagre, a remeter para a pobreza de outrora onde as casas eram pintadas com as mãos sujas da terra. Já na Vila do Porto vê-se a mistura de todas estas cores, por vezes associada com o orgulho nas origens dos habitantes de cada casa.

Dia 1 – A costa sul

Começámos por conhecer a Vila do Porto, principal centro de serviços da ilha, onde se concentram alguns pontos que valem a visita, nomeadamente a Marina com o seu clube náutico, logo ao lado o Forte de São Brás com a vista magnífica sobre a Marina e depois o centro histórico da vila propriamente dito onde se destacam várias igrejas, nomeadamente a Igreja de Nossa Senhora da Vitória e a Igreja Matriz de Vila do Porto.

Se as igrejas são muitas, ficámos também agradavelmente surpreendidos pela quantidade de obras de arte urbana espalhadas pela vila, resultado do Festival Maré de Agosto que tem lugar por altura do Verão. Estamos a falar de artistas conceituados como Bordalo II e obras de arte muito, muito bonitas e bem enquadradas! Uma das que mais gostámos foi a “Estrelinha-de-Santa-Maria”, que está no Jardim Municipal da Vila do Porto.

A 10 minutos de carro encontra-se a Praia Formosa mas sugerimos que antes de iniciarem a descida para a praia propriamente dita, façam uma paragem no Miradouro da Macela que tem vista privilegiada para a praia Formosa à esquerda e a Prainha à direita. A cor da água sobre a costa com as almofadas de lava quase a submergir, a costa verdejante e duas cascatas a cair para o mar (temporárias por ter chovido muito na noite e na manhã da nossa visita) fazem deste miradouro um dos mais belos da ilha, na nossa opinião.

Descendendo para a Praia Formosa vale a pena aproveitar e molhar os pés (ou mesmo fazer praia). É uma praia vigiada em época balnear. Não tivemos muita sorte com o tempo mas ainda assim a água estava absolutamente deliciosa.

De lá seguimos para o Barreiro da Piedade que embora mais pequeno e muito, muito menos conhecido do que o seu congénere no norte da ilha (Barreiro da Faneca) foi uma enorme surpresa e conseguiu arrancar-nos uns quantos “uau”! Esta paisagem deserta e árida, vermelha e quase marciana foi a grande surpresa do dia e recomendamos vivamente que passem por aqui. Mais uma vez repetimos, apesar de já o termos referido em cima: devem ter especial cuidado ao circular nesta zona tentando não sair de estradas alcatroadas para evitar dissabores. 

Seguindo a mesma estrada, e poucos quilómetros à frente, encontra-se o Caminho do Gigante, num caminho secundário com pouco mais de 1km que nos leva até à belíssima Ribeira do Maloás que dispensa descrições… Um encanto que nos fez quase “regressar” à Islândia com esta paisagem tão especial!

Foi-nos vivamente aconselhado por locais (e quando lá chegámos percebemos porquê) a deixar o carro na estrada principal e NÃO entrar por estas estradas secundárias de terra batida dado serem frequentes os atolamentos de carros em dias de chuva ou imediatamente após. Mais uma vez cumprimos e deixámos o carro numa berma da estrada em asfalto fazendo o resto do percurso a pé. Ao longo do trilho vai-se percebendo como a decisão foi a correcta tal era o lamaçal.

Dia 2 – A encosta norte de Este a Oeste

Neste 2º dia tivemos mais sorte com o tempo pelo que fizemos o nosso roteiro no sentido Este-Oeste, tal como sugerido pelos locais.

Começámos pela freguesia do Santo Espírito nomeadamente pela belíssima Cascata do Aveiro que é efectivamente linda! Todo o enquadramento e a altura da própria cascata valem a visita. É também aqui nesta encosta onde crescem as famosas vinhas da Maia, cujo vinho é bastante afamado.

A 7 minutos de carro encontra-se o Farol de Gonçalo Velho que é também um must see, na nossa opinião. É possível fazer uma visita ao seu interior (que não fizemos porque só quando lá chegámos é que soubemos e já não se encaixava nos nossos planos). Estas visitas têm lugar à quarta-feira sendo durante o verão das 14-17h e no inverno das 13h30-16h30, de meia em meia hora para um máximo de 3/4 pessoas (horários sujeitos a mudanças e que sugerimos sempre confirmem previamente).

Seguindo em direcção a oeste, vale a pena uma paragem rápida na localidade do Santo Espírito com o seu largo e a Igreja de Nossa Senhora da Purificação (também conhecida como Igreja de Nossa Senhora das Candeias), um edifício que data de inícios do século XVI e com uma fachada barroca impressionante.

Seguimos para o Poço da Pedreira, uma antiga área de extração de inertes, cuja enorme parede avermelhada à beira de um lago com umas largas dezenas de rãs torna este ponto único e um dos mais visitados da ilha. Não estávamos à espera que fosse tão imponente e foi deste lugar que saíram as pedras que permitiram a construção de vários edifícios de ilha (e não só). Esta enorme parede rochosa tem ainda no topo um miradouro acessível a pé com vistas deslumbrantes. O acesso da estrada principal é muito fácil e está a poucas centenas de metros, com estacionamento gratuito.

A Baía e praia de São Lourenço, que ficam a 5 minutos do Poço da Pedreira, é outro dos pontos a não perder na ilha. Um dos melhores pontos para o ver é a partir do Miradouro de São Lourenço. A cor azul da água torna esta uma das vistas mais bonitas de toda a ilha, dizem os locais e nós comprovámos isso mesmo. Se a cor era assim num dia nublado não conseguimos imaginar o que será em dias de sol!

Ainda antes de chegar à zona dos Anjos, última paragem do dia, fomos explorar a zona do Barreiro da Faneca, uma área de terreno árido e argiloso que faz desta uma paisagem semi-árida única nos Açores. Vale muito a visita, acessível facilmente a pé mas mais uma vez chamamos a atenção para não saírem da estrada alcatroada. Na altura, dado ter chovido e a estrada próxima do Barreiro estar algo enlameada, estacionámos perto da Ermida Nossa Senhora do Pilar e fizemos o restante percurso (poucos metros) a pé (coordenadas aproximadas do lugar onde estacionámos: 37.000773, -25.127706).

Por fim é hora de seguir viagem rumo aos Anjos onde a estátua de Cristóvão Colombo celebra os 500 anos do desembarque do navegador naquela localidade da Ilha de Santa Maria aquando do regresso da viagem panamericana. Reza a lenda que assim que atracou e pôs os pés em terra, mandou rezar uma missa na Ermida de Nossa Senhora dos Anjos, que no seu interior, tem ainda vestígios da capela original onde dizem ter ocorrido este facto histórico.

Depois de um mergulho na maravilhosa Zona Balnear dos Anjos como podemos terminar o dia em grande? Pois bem, sugerimos que visitem o Bar dos Blues ao pôr do sol para beber uma imperial a acompanhar uns camarões fritos e um pão de alho. Este é um dos melhores bares da ilha, tem um enquadramento fantástico e está numa zona onde o pôr-do-sol é digno de um quadro! Foi aqui que vimos um dos pores-do-sol mais bonitos da viagem e foi um dos melhores momentos de todo o nosso périplo pelos Açores, que ainda hoje recordamos com muito saudosismo.

O último “meio dia”

Para este último meio-dia reservámos dois pontos que também consideramos imperdíveis.

Um dos pontos que mais nos surpreendeu foi o Parque Recreativo das Fontinhas, uma reserva florestal lindíssima, muito bem cuidada, com alguns pequenos trilhos que percorrem a reserva e que tem uma paz que nos conquistou totalmente. Tem mesas e podem sempre optar por fazer aqui um piquenique, se for esse o caso.

Por último, não podemos deixar de falar no Pico Alto, que do alto dos seus 590m de altitude é o ponto mais alto da ilha e de onde se tem uma vista panorâmica em 360º. Nós fomos lá mas tudo o que vimos foram nuvens. De qualquer forma, vimos fotografias e parece ser muito bonito pelo que sugerimos fortemente que o visitem.

Dica extra: percorrer a estrada EN2-2 ao final do dia (preferencialmente na chamada golden hour) e parar no Miradouro da Alagoinha…. Deslumbrem-se com as cores e as vistas !

6. Onde ficar?

A ilha é pequena pelo que escolhendo um ponto mais ou menos central, estarão relativamente próximos de quase todos os pontos a visitar e que aqui sugerimos.

Nós ficámos no Alojamento Casa da Bisa, localizada na localidade de Santa Bárbara. Uma casa típica recuperada e completa com 2 quartos, WC privativa, sala, cozinha bem equipada, um espaço exterior com uma vista muito bonita e até uma churrasqueira. Pagámos 91,80€/noite e apesar de não ter PA incluído, os anfitriões deixaram-nos alguns produtos e iguarias locais que nos deram muito jeito nas refeições dos dias seguintes.

Somos sempre da opinião que esta tipologia de alojamento permite-nos uma poupança considerável nessa grande fatia que é alimentação. Desta vez não foi a excepção. Gostámos muito e recomendamos! Saímos de lá com a promessa que haveríamos de voltar.

7. O que e onde comer?

Especialidades a não perder:

Meloa de Santa Maria: uma das especialidades da ilha e podem encontrá-la directamente na cooperativa agrícola Agromariensecoop para as provarem. Visitámos a cooperativa em Junho e não as provámos por estarmos fora de época (que dizem ser mais em Julho/Agosto), mas ficámos muito curiosos;
Biscoitos de Orelha: são de “comer e chorar por mais”! Estes biscoitos secos são óptimos e sabem ainda melhor a acompanhar um café/chá. Aconselhamos que provem os da Fábrica “O Cagarrita”, que têm fábrica na Vila do Porto mas vendem no Supermercado Continente Bom Dia dessa localidade. Não sendo uma especialidade exclusiva desta ilha mas que também vale a pena provar são os Bolos Levedos da Cooperativa de Santa Maria que são deliciosos (também encontrados no mesmo supermercado);
Peixe e marisco;
Vinho de Cheiro (das encostas de São Lourenço).

Restaurantes/Bares

-» Existem algumas ofertas pela ilha e, começando pelos que experimentámos, recomendamos “O Tibério” com gastronomia local e preços razoáveis e claro, o “Bar dos Blues” (imperdível ao pôr do sol) onde podem fazer refeições ou simplesmente provar os camarões, o pão de alho e uma cerveja para terminar o dia em grande, uma experiência que recomendamos.
-» Além destes, apesar de não os termos experimentado, os locais recomendaram-nos o “Clube Naval”, o “Mesa d’Oito” e o “Grota” (que estava fechado quando visitámos a ilha, não chegámos a perceber se temporariamente ou não).

Supermercados

-» Encontram um “Continente Bom Dia” na Vila do Porto, com dimensão razoável e alguma variedade de produtos. Dentro do mesmo edifício do supermercado têm ainda uma Sport Zone, Note, Worten e Baga Café.

8. Ilha de Santa Maria com bebés: sim ou não? Cuidados extra?

Somos daqueles que não concordam que viajar com crianças é uma missão impossível… de todo! É totalmente possível desde que o destino/trajecto esteja bem estudado, condições básicas asseguradas, assim como muita brincadeira. É aliás, comparativamente a outras ilhas, bastante menos montanhosa o que pode facilitar a logística com os mais pequenos.

Dito isto, para este destino em particular, devem partir com a noção de que a ilha tem apenas urgência básica em Centro de Saúde (USI Santa Maria), não dispondo de hospital, apesar de estar conectada à ilha de São Miguel por via aérea. É importante ter isto em mente e perceber se, em função do histórico de doenças prévias da criança, doenças crónicas etc., se sentem confortáveis em visitar este tipo de destinos onde os cuidados de saúde não são tão diferenciados e acessíveis como noutros locais.

9. Seguro de viagem

Respostas de 4 a “Roteiro de 2 dias (e meio) na ilha de Santa Maria”

  1. Encantada com esta viagem. Nunca cogitei mas seu post me animou.

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    1. É uma ilha encantadora mesmo ☺️

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  2. espero conhecer brevemente a ilha! e vou seguir as vossas dicas. Obrigado

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    1. Que bom! É uma ilha que vale muito a pena conhecer. Aproveite!

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