Dia 6 – De Ferreira do Alentejo a Faro

Sentia-se já a nostalgia daquele que seria o último dia de viagem pela Estrada Nacional 2 (N2). Junto a Ferreira do Alentejo encontrámos um maravilhoso campo de girassóis, que nos obrigou a uma primeira paragem que até nem estava nos planos. Esta viagem continuava, sem dúvida, a ser exímia neste tipo de paragens. Dizem que ao começo da manhã é das melhores alturas para poder admirar girassóis e ali estavam eles, efetivamente, a adorar o sol e a receber-nos no seu máximo esplendor. Cada vez temos mais certezas que se há algo que vamos trazer desta viagem são estes momentos, em que percebemos que realmente temos de parar mais e apreciar as coisas boas e lindíssimas que “se atravessam mesmo à frente dos nossos olhos” e que nem sempre paramos para ver.

De volta à estrada, deixámos por momentos a N2 apenas para atravessarmos a povoação de Ervidel, que nos chamou à atenção à passagem pelas duas torres (da igreja matriz e da Ermida de S. Pedro) que se destacavam por entre as suas chaminés tão características. Junto da sua igreja pudemos avistar ao longe as águas da albufeira da Barragem do Roxo, quase como que uma miragem sobre a planície alentejana que cada vez nos encanta mais.

Chegamos depois à pitoresca vila de Aljustrel (Km 618). São as minas que lhe dão fama, mas o que nos surpreendeu à chegada foi a brancura que dos seus edifícios, reflectindo o sol que já ia alto a meio da manhã. Numa das paredes destes edifícios vimos escritas, de forma colorida, as palavras do momento, dada a situação pandémica que atravessamos: “Vai ficar tudo bem”. Se houve coisa também que esta viagem nos ensinou é que vai continuar a depender do esforço consciente de todos nós fazer com que fique tudo bem, no que toca à essencial saúde e na parte económica, numa altura em que (com as devidas precauções) não devemos deixar de partir para voltar a impulsionar tudo o que o nosso país tem de extraordinário. Com a sua histórica e deslumbrante Ermida e com vários moinhos ao redor da vila, aproveitámos para fazer uma curta paragem com vistas privilegiadas. Claro que não partimos sem antes, também aqui, recolhermos o carimbo da vila.

A paragem seguinte foi a vila de Castro Verde (Km 640). Nos seus arredores eram ainda notórias as marcas de incêndios recentes, que retiraram esplendor às paisagens que era suposto termos à chegada. No seu centro histórico destacava-se a Basílica Real, um templo imponente que é o orgulho de todos os locais. As casas coloridas em redor deram-nos cor à passagem e fizeram-nos, por momentos, esquecer as temperaturas elevadas (uma vez mais). O Posto de Turismo encontrava-se ali perto, onde também ali pudermos “marcar” a nossa passagem no guia e no passaporte.

Seguiu-se uma passagem rápida por Almodôvar (Km 663) e daqui até S. Brás de Alportel a mítica ganha a denominação de “Estrada Património”, onde após obras de requalificação, a N2 mantém os traços dos seus primeiros anos de existência.

Enquanto percorríamos as curvas da Serra do Caldeirão, apercebíamo-nos de que a nostalgia se apoderava, em definitivo, de nós. Nestes, que eram já os últimos Km, era inevitável irmos relembrando as inúmeras peripécias que tínhamos tido a sorte de viver ao longo destes dias tão intensos.

A “Casa dos Presuntos”, em Cortelha, encontrava-se logo ali, à beira da N2. Gente simpática e comida maravilhosa registavam da melhor forma este limite entre regiões portuguesas, onde tão bem se sente a mistura gastronómica entre o Alentejo e o Algarve. Tinham carimbo da N2 e não pudemos deixar passar a oportunidade de também o recolher! 

A penúltima paragem desta aventura foi então em São Brás de Alportel (Km 723). Apesar de uma parte do centro da cidade estar em obras, foi inevitável deixarmo-nos conquistar pelos detalhes históricos que ali ainda encontramos, onde até uma antiga “Casa do Guarda de Trânsito” é hoje uma pizzaria, mantendo o aspecto original do edifício. Até os vários painéis publicitários espalhados pela cidade têm este aspecto vintage, tentando manter esta componente histórica que é hoje um património único do nosso país.

Mal nos apercebemos, estávamos em Faro e mesmo à nossa frente encontrávamos a rotunda com um recente e conhecido marco da N2, onde se podia ver marcado o Km 738. Parámos, registámos o momento, pulámos de alegria e festejámos. Uma mistura de emoções apoderou-se de nós, entre a alegria do caminho percorrido e a tristeza de já o ter terminado. Foram um total de 739,260 km, 11 distritos e 35 municípios que se apresentaram ao longo do caminho, prontos para serem descobertos. Uma coisa é certa, como em todas as viagens que fazemos, nunca terminamos a sentir que estamos iguais ao momento em que a começámos. Também desta vez nos sentíamos diferentes, sentíamos em nós a história, as pessoas e as lendas de uma mítica estrada que não deixa ninguém indiferente. E que ficarão connosco para o resto das nossas vidas!

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