Apesar de hoje passar relativamente despercebida, a cidade de Nara é um dos principais berços da história do Japão e foi, em tempos, a capital do país. A sua proximidade com Quioto e Osaka levam a que seja extremamente fácil chegar ao seu centro histórico, mesmo através de transportes públicos, numa visita que nos leva a viajar pela história do Japão, numa cidade que possui 8 Patrimónios Mundiais da Unesco.
Partimos bem cedo de Osaka com destino a Nara. Pelos nossos cálculos e planos, passaríamos aí um dia (ou parte dele), para conhecermos um pouco mais desta que foi a primeira capital fixa do império japonês. Algo em que inevitavelmente pensamos quando falamos em Nara são os seus simpáticos veados, que vagueiam pela zona histórica da cidade e junto aos templos, pouco preocupados com a azáfama de turistas que por ali andam. Os locais acreditam que os veados são mensageiros dos deuses, pelo que são acarinhados localmente e devem ser respeitados. Apesar do seu ar dócil, respeito é mesmo a palavra de ordem quando interagirem com eles, pois chegámos a ver alguns a investir sobre turistas por estarem a ser demasiado incomodados com festas e tentativas de encontrar o melhor angulo de fotografia (tenham atenção redobrada se forem acompanhados de crianças).


Algo que acaba por nos cativar enquanto turistas é o facto de os veados retribuírem a vénia que lhes fazemos, o percebemos não ser mais do que um reflexo condicionado já que, após a vénia, os veados ficam sempre a aguardar que lhes seja dada comida. Neste sentido, um pouco por todo o lado encontramos letreiros alertando para o facto de ser proibido alimentar os veados, a não ser que seja com as localmente chamadas “shika senbei“, que não são mais do que “bolachas” específicas que que se vendem um pouco por todo o lado (rondam os 200 Yens, aproximadamente 1,70€), que são próprias para o tipo de alimentação destes animais. Assim, tenham isto em conta e respeitem esta norma, essencial para a preservação desta espécie local.
O trajecto que aqui vos propomos foi aquele que realizámos a pé pela zona histórica da cidade, tendo aproximadamente uma extensão de pouco mais de 4 quilómetros:

Jardim Yoshikien
Este jardim público e gratuito para turistas estrangeiros vale, sem dúvida, uma visita (coordenadas 34°41’6.706″ N 135°50’13.089″ E). À entrada dão-nos um mapa do jardim e basta apresentarmos um cartão de identificação válido (p.e. passaporte), estando este aberto das 9:00 às 17:00. Deve o seu nome ao rio Yoshikigawa que corre ali e dizem que uma das melhores fases para ser visitado é no Outono, quando as assume tons vermelhos e inesquecíveis. Por ser pouco conhecido, no seu interior podemos vaguear (praticamente sozinhos) pelos diversos locais, sendo os de paragem obrigatória o “Jardim do Lago”, o “Jardim do Musgo” e o “Jardim das Cerimónias de Chá”, permitindo num só lugar ver elementos tão distintos.



Atenção que este Jardim fica ao lado do Jardim Isuien (que não visitámos mas dizem também ser lindo), esse já pago, por isso não se enganem no portão.
Porta Nandai-Mon
Olhando para o nome, deve parecer estranho pensar porque será uma Porta um local digno de visita e a algo a incluir neste roteiro. Acontece que a Porta Nandai-Mon não é um elemento qualquer… Esta marca a entrada principal do Templo Todai-Ji e, do alto dos seus 25 metros, tem o título de maior porta de entrada de qualquer templo no Japão. Não sendo já a original (destruída por um Tufão), foi reconstruída durante o Período Kamakura da história do Japão, algures entre o século XII/XIII. Se puderem, deem especial atenção às duas estátuas de madeira recentemente restauradas, cada uma delas com mais de 8 metros, com uma aparência algo feroz e que representam os Guardiões Nio do Templo. A Porta e as duas estátuas são actualmente consideradas tesouros nacionais do Período Kamakura.

Templo Todai-Ji
A entrada neste templo é paga (600 Yen por pessoa, aproximadamente 5€) e o seu nome significa “Grande Templo Oriental e, acreditem, faz juz ao nome. É um dos templos mais famosos e historicamente significativos do Japão, datando a sua construção do longínquo ano de 752, tendo sido considerado o principal templo budista do Japão. Durante muitos anos, o edifício principal do Templo Todai-Ji, localmente conhecido como Daibutsuden (que significa Hall do Grande Buda), tinha o estatuto de maior edifício de madeira do mundo, tendo a reconstrução que sofreu em 1692 deixado apenas dois terços do tamanho original do edifício do templo original.


Ainda assim, aqui encontramos uma das maiores estátuas de bronze do Buda (Daibutsu). Com 15 metros de altura, esta estátua representa Vairocana, que segundo a doutrina budista representa o Buda Cósmico, de onde surgiram todos os restantes. Este é ladeado por dois Bodhisattvas (seres iluminados que atingiram um estatuto importante no budismo, sendo um deles) e por 2 Guardiões de Buda.



Outra atração popular no interior do templo é um pilar de madeira com um buraco na base do mesmo tamanho da narina do Daibutsu. Dizem que aqueles que conseguirem atravessar essa abertura serão iluminados nas suas vidas. A sensação de claustrofobia só de olhar não deixou que fossemos supersticiosos o suficiente para arriscar passar, mas é algo a experimentar caso visitem este templo. Não se esqueçam que as visitas nos templos budistas devem ser sempre realizadas no sentido dos ponteiros do relógio, de acordo com os rituais budistas.

Para mais informações, visitem o site oficial do Templo Todai-Ji.
Templo Nigatsu-do e área circundante
Este pequeno templo, também ele pertencente ao Todai-Ji, também vale a visita. A sua construção remonta ao ano de 750 e há quem diga que tem as suas semelhanças ao templo Kiyomizu-dera de Quioto. Apesar do seu interior ser privado, a sua varanda está aberta ao público e oferece uma vista imperdível sobre Nara, algo que dizem ser ainda mais bonito no momento do pôr do sol. Se por acaso passarem por aqui em Março, anualmente (e ininterruptamente deste o ano 752) no dia 12 desse mês realiza-se uma cerimónia chamada Omizutori, baseada no fogo e na água, onde enormes tochas flamejantes são colocadas na varanda do templo e, no dia seguinte, retiram água de um poço que existe sob o templo e que acreditam ser sagrada e que tenha propriedades curativas. Ao redor do Templo Nigatsu-Do, existem outros pequenos templos dispersos, também eles merecedores de uma visita.




Jardins do Parque de Nara
O Parque de Nara é basicamente todo este espaço onde se integram os locais que descrevemos anteriormente. Apenas salientámos o local aqui para que “percam” um pouco de tempo a observá-lo e a deliciar-se com todos os tons de verde que aqui encontram. Fundado em 1880, é por onde vão circulando livremente os veados que são a imagem de marca de Nara.


Templo Kofuku-Ji
Para concluir este circuito, nada melhor que o Templo Kofuku-Ji, um dos Patrimónios da Unesco existentes em Nara. Fundado em 669, foi para aqui transferido posteriormente, em 710. O Templo original dizem que era constituído por mais de 175 edifícios, restando hoje em dia apenas 12. Os seus jardins são de acesso gratuito, e aqui podemos encontrar dois Pagodes também eles dignos de registo, sendo o maior deles (com 5 patamares) considerado o 2º maior do Japão. Se pretenderem aceder ao interior do Templo, podem aqui visitar o Museu do Tesouro Nacional (custo de 600 Yen= aproximadamente 5€), algo que acabámos por não visitar.
Se pretenderem saber mais sobre este Templo, visitem o site oficial.

Como chegar: Existem comboios directos de Quioto e de Osaka até Nara. No nosso caso, como já referimos, optámos por ir a partir de Osaka, através do comboio da companhia Kintetsu (atenção que se tiverem o JR Pass, não é válido para viajar nesta companhia, têm de comprar bilhete). Esta viagem inicia-se na Estação Namba em Osaka, perto da estação de metro, e parte em direção à estação de Nara. O preço ronda os 560 Yen (aproximadamente 5€ por pessoa/viagem), demorando aproximadamente 40 minutos.
Caso tenham o JR Pass, podem ir também até Nara através do comboio desta companhia, que parte da Estação Tennoji em Osaka (viagem de aproximadamente 25 minutos), sendo que a Estação de Nara desta companhia fica mais distante do Templo principal daquela cidade.
Dica extra: Na entrada da estação de comboios, têm um posto de informações que oferece um mapa da cidade e os funcionários dão diversas sugestões para o nosso roteiro. E sim, também aqui têm carimbos gratuitos para guardarem como recordação da vossa passagem por esta cidade.
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