Rituais dos templos e santuários japoneses

Em cada viagem acabamos sempre por, em momentos mais ou menos frequentes, sentir a diversidade cultural do local por onde passamos. O Japão não é excepção a isso, sendo que também a própria barreira linguística não facilita o entendimento prévio de vários rituais e comportamentos que se vêem com pouco por todo o lado, especialmente nos templos e nos santuários. Para entrarmos na verdadeira vivência (também espiritual) que o Japão tem para no oferecer, pensámos em descrever um pouco os diversos rituais que existem e são realizados nestes locais de culto do Japão, de forma facilitar a integração de quem planeia sentir o país do Sol Nascente.

Se há algo que se idealiza quando se pensa numa viagem ao Japão é a dimensão espiritual deste país. Não deixa de ser curioso que, apesar de se pensar comummente que o Japão é um país com uma tradição espiritual muito forte, apenas pouco mais de um terço da sua população se assume ligada a uma determinada religião (maioritariamente Budistas ou Xintoístas). Ainda assim, talvez de forma supersticiosa, visitar estes locais sagrados tem especial relevância e tradição em épocas festivas como o Ano Novo, onde se invoca ajuda divina para o ano que se inicia. Um pouco por todo o lado, em lugares de destaque ou até mesmo escondidos entre prédios habitacionais, existem uma infinidade de santuários e templos, repletos de rituais próprios.

Para começarmos esta partilha, é essencial saber a diferença entre os Templos e os Santuários deste país. Os Templos (normalmente acompanhados do sufixo “dera”) estão associados ao Budismo, sendo que as suas entradas se denominam de mon, assemelhando-se a um portão imponente de uma casa. O seu interior vai ao encontro do ideal do pensamento budista, resumindo-se à simplicidade. É vulgar encontrar também aqui imponentes pagodas, que são torres de vários patamares, cada um deles com um simbolismo espiritual próprio. Algo que se também se vê com frequência é o manji, uma suástica budista (que não tem qualquer relação com a utilizada no nazismo), sendo que na sua vertente espiritual significa o equilíbrio universal entre todos os opostos e a eternidade.

Já os Santuários, que frequentemente apresentam a palavra “jinja” no nome, estão ligados ao Xintoísmo, a religião ancestral do Japão e têm na sua entrada os famosos toriis, que simbolizam a separação entre o mundo humano e o sagrado. Esta religião baseia-se no culto da natureza, tendo por base que os deuses habitam em todos os elementos naturais que nos rodeiam, estando cada santuário dedicado a uma só divindade.

Apenas por curiosidade, os japoneses dão o nome de omairi ao acto de visitar e orar num Templo ou Santuário. Explicamos de seguida os rituais para praticar o omairi em cada um destes espaços sagrados:

Rituais ao visitar um Templo

Deve ser feita uma vênia antes de passar o portão do templo. Depois de o atravessar encontra-se sempre um pequeno tanque com água (localmente conhecido por chozuya ou temizuya) onde certamente encontram várias pessoas numa primeira paragem. É neste local que se realiza a purificação individual antes de nos aproximarmos do edifício principal do templo. Muitas vezes encontramos a explicação no local (com imagens da sequência) mas basicamente consiste no seguinte: 1) Encher a concha com água da fonte com a mão direita e despejar um pouco sobre a mão esquerda, repetindo o processo para lavar a mão direita. (2) De seguida, segura-se a concha com a mão direita e despeja-se um pouco de água na mão esquerda, levando à boca para a lavar. 3) Por fim, lavar a mão esquerda com a água remanescente na concha. 4) Voltar a colocar a concha no local, virada para baixo.

Logo depois encontramos locais onde se queima incenso. Podem comprar os vossos incensos no templo para colocar aqui a queimar se assim entenderem, tendo o cuidado de não o acender nos já existentes, pois simbolicamente acreditam que com este gesto podem estar a assumir os pecados de outra pessoa.  Acredita-se que o incenso tem um poder curativo, por isso será vulgar verem pessoas a puxarem para si o fumo do incenso, direcionando-o para locais do corpo onde têm algum tipo de dor ou doença.

Chegando à entrada do edifício principal do templo (não esquecer de respeitar a fila se houver), à nossa frente estarão caixas de madeira no chão, com ranhuras, onde deve ser colocada uma oferta (moeda de qualquer valor). De seguida, toca-se o sino ou gongo (se existir) firmemente algumas vezes, pois acredita-se ser a “voz de Buda”. Fazendo nova vénia, devemos então fazer a oração pretendida, com as mãos juntas e próximas do peito (sem bater palmas). A oração é concluída com nova vénia, antes de abandonar o edifício. É frequente a obrigatoriedade de descalçar antes de entrar nos edifícios principais dos templos, havendo locais para deixar os sapatos se necessário.  

Rituais ao visitar um Santuário

Antes de entrarmos num Santuário, devemos curvar-nos ligeiramente antes de atravessar o torii. Essencial também é reter que que após atravessarmos o torii, ao longo do trajecto até ao recinto principal do Santuário devemos sempre circular pelas extremidades do caminho, nunca pela área central, pois acredita-se que esta área é exclusiva para os Deuses.

Também nos Santuários se encontram os chozuya (ou temizuya), sendo o ritual de purificação em tudo semelhante ao que explicámos anteriormente para os Templos.

Chegando ao edifício principal do Santuário, devemos curvar-nos ligeiramente. Encontramos igualmente à nossa frente uma caixa de madeira no chão, onde também poderemos colocar a nossa oferenda (normalmente também uma moeda de qualquer valor). Também aqui se toca o sino ou o gongo (se existir) mas apenas duas ou três vezes, tendo este gesto o simbolismo de assinalar aos deuses a nossa chegada. De seguida devem ser realizadas duas vénias profundas (até fazer um ângulo de 90 graus), concluindo-se com duas palmas, com a mão esquerda ligeiramente à frente. Estamos então prontos para ali, de pé, realizar a nossa oração, em silêncio, pois o xintoísmo defende que os Deuses não precisam de ouvir a nossa voz para ouvir a nossa oração. A oração conclui-se com nova vénia profunda, antes de abandonar o edifício.

Depois das orações

Tanto nos Templos como nos Santuários, um ritual que pode ser feito após as orações é a compra de um omikuji, algo que não deixámos de fazer. Com valores variáveis consoante os locais, mas normalmente a rondar os 100 Yenes (aproximadamente 0,85€), retirarmos aleatoriamente um pau (de madeira ou metálico) de dentro de uma caixa, ao qual corresponde um pedaço de papel, onde nos é pronunciada a nossa sorte em área diversas, que vão desde a saúde, aos negócios e até aos casamentos. Se os pronúncios forem bons (como foi o nosso caso), devemos guardá-lo e trazê-lo para casa.

Se, por contrário, trouxerem mau augúrio, devem ser atados numa árvore ou corda junto ao templo, sendo que simbolicamente significa que estamos a entregar aos Deuses a nossa sorte. A maioria destes omikuji encontra-se em japonês, mas quase todos já têm a sua versão traduzida, de outra forma não tínhamos conseguido entender a sorte que nos estava destinada… Não vale a pena comprar em todos os Templos ou Santuários que visitem, mas recomendamos que o façam pelo menos uma vez, pois faz parte integrante da experiência.

Claro que devem existir bem mais diferenças e detalhes que nos escaparam e que não conseguimos dominar, dado que esta temática é de uma vastidão imensa. O nosso conselho é que quando visitarem um santuário ou templo japonês, experienciem um pouco destes rituais, tanto por uma questão de respeito como de enriquecimento pessoal por uma experiência que fica, sem dúvida, para a vida.

Dica extra: Se procurarem, existem carimbos em vários templos e santuários, que podem colecionar para registar e ficar de recordação desta visita, de forma gratuita. Tentem encontrá-los junto das lojas de recordações.

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